
Fim de Março
Hoje celebram o aniversário
(Com erário do povo, porfias, teatro)
Por vias oficiais, retintas no Diário
À luz do dia revivem sessenta e quatro
Celebram:
Vértebra partida à clava forte
Golpe desferido na madrugada
Ferida sussurrada até a morte
Mordaça em boca alheia, ensanguentada
Ossos outrora interrogados
(Interrompidos filhos deste solo)
‘inda rogando no exílio dos enterrados:
Que martírio, Mãe Gentil, é o teu colo!
Celebram:
Coronéis Brilhantes de tempos escurecidos
De têmporas estouradas, dilacerados tecidos
Teu cálice tinto de tanta carnificina,
E o cárcere, inextinto, que arde e calcina.
Celebram
Porque é curta a memória
e a história se oculta
e a farsa se isenta
e se furta à massa cinzenta
a massa da escória
Celebram.
Mas há quem se lembre.
Foi num fim de março
O sim da morte
Engodo,
Gólgota,
Golpe.
3º Lugar no Concurso Literário Abrace um Autor, 2021