Onde?

No movimento browniano dos dias,

onde o sentido de ir e vir?

No frenesi eterno das horas,

onde o nosso salário?

Na atração indelével dos corpos,

No torcer e retorcer de rostos,

Na partitura dos anos, pontilhada de notas,

onde a melodia? Onde a plateia?

No entoar aleluias em missas de domingo,

onde Deus?

Nas curvas sinuosas de infinitas interrogações,

onde o ponto final?

Nos labirínticos caminhos do dia,

No circular tonto dos ponteiros,

Na extensão sonolenta das filas,

onde o propósito?

Onde?

No patético ir e vir de pernas e rodas e asas,

onde o destino final?

No exaustivo câmbio de papéis coloridos,

onde o real valor?

No ligeiro virar de páginas,

Na inquietude dos olhos,

No desassossego dos lábios,

No caos de faróis e buzinas,

Nas dores do parto,

No suor de mãos entrelaçadas,

No rabiscar de letras vãs

No sepultar de corpos

No prantear ausências

onde, onde,

onde?

Onde essas agulhas na alma?

2013

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Haicais