Stand-up do Diabo

Opa, boa noite, tudo bem? Belezinha?

Valeu, valeu.

Você deve tá se perguntando "quem diabos é esse cara?”, né? Não, não está, porque você não é o Ed Murphy em filme dublado. Meu nome é Lúcio. Diminutivo de... Lúcifer. Sim, aquele Lúcifer. Pois é, até o Diabo tá fazendo stand-up agora, toma essa. Talvez vocês já estejam todos mortos e aqui seja o inferno. Brincadeira, podem ficar tranquilos. Quer dizer, um ou dois aí podem ficar tranquilos, o resto... aguardem. Principalmente você aí atrás, Clayton.

Quando eu decidi entrar nessa de stand-up, acompanhando os publicitários frustrados e os atores decadentes do Zorra Total, vários amigos me deram um toque: “Olha lá, hein, Lúcio, fazer piada com a religião dos outros é foda.” Como assim gente? Não entendi esse conselho. As pessoas religiosas são sempre tão ponderadas e racionais. Eu, hein.

O quê, achou que o Diabo não tinha amigos? Ô se tem. Tem o Silas, o Jair, vários papas… Falando nisso, esse Papa atual, o Francisco, é um amorzinho, não é? Isso me deixa triste porque ele não vai dar as caras lá embaixo. Tá cheio de papa por lá. Ah, mas o Francisco é tãããoo FOFO! Pra um líder de uma das mais cruéis e retrógradas instituições da história da humanidade até que ele tá se saindo bem, né, gente? E o nome: “FRANCISCO”. Tão latino, tão relatable!

Quando se é o Diabo você cria um certo trauma de nomes. É Exu, Capiroto, Mochila de Criança, Coisa Ruim, Demônio, Chifrudo, Serpente, Inimigo, Besta, Tinhoso, Satanás, Pé-de-Bode, Mefistófolis, Tranca Rua, Satã. Coach. Opa, coach não porra, respeito. Como dizem os crentes: tá amarrado! Crente tem essa obsessão com bondage, né? “Tá amarrado!”, “Pisa no inimigo!”. Eu, inimigo! Não entendo porque essa perseguição à minha pessoa. Eles têm uma igreja em cada esquina, catedrais milenares, programas no horário nobre da Band. E eu tenho o que pra divulgar meu trabalho? O Toninho do Diabo aparecendo de vez em quando no Programa do Ratinho? Um disco da Xuxa tocado ao contrário!? Série cancelada da Netflix? Difícil.

A verdade é que eu sou o maior injustiçado da história. Tudo de ruim que acontece: ah, coisa do Diabo! Ainda bem que apareceu o PT pra ser culpado por tudo de ruim no meu lugar. É libertador, obrigado! E a estrela de cinco pontas vermelha foi ó… a cereja do bolo.

Agora, isso quer dizer que eu sou, assim, um anjinho? Claro que não. Aliás, eu já fui um anjinho. Foi aí que começou essa patifaria toda. A história vocês já tão carecas de saber: Lúcifer foi expulso do céu, blablabla. Mas vamos ver direitinho aqui na bíblia. Aham, “Isaías 14:12: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! (alguém tem mãe chamada Alva aí?) como foste lançado por terra tu que prostravas as nações!” (Ah, deixa eu contar um segredo: Deus só entende português na segunda pessoa do singular hihihi). Continuando: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.”

Aaaaaahhhh então o farfé todo foi por isso?! O Diabo foi expulso porque quis ser igual a Deus. Já pensou um filho chegar pro pai e dizer "papai, quero ser igual o senhor". E o pai: “É o que, moleque? Inaceitável! Já pro seu quarto. Ou melhor, já pra uma dimensão de sofrimento eterno criada especialmente para você e queime para sempre”

Hã…Overreacting?

E assim surgiu o inferno. Ok. Aí Deus resolve criar a humanidade. Logo de cara o plano não dá muito certo. Pra um ser que se diz onipotente, Ele tem uma taxa baixíssima de sucesso nos projetos, né? Já teve até que fazer reboot da humanidade. Mas voltando: Deus cria a humanidade, e proíbe o casalzinho lá de comer uma frutinha específica. Consegue imaginar Deus vigiando atrás de um arbusto igual um moleque que fez uma armadilha pra passarinho? Aí Ele aprende o básico da humanidade: proibido é mais gostoso. O casal, lógico, come a porra da fruta. E o que que tem nessa porcaria de fruta que Deus não quer que eles tenham? Conhecimento. Hmmm.

Então, no alto da sua bondade, Ele resolve fazer o que qualquer pai amoroso faz com filhos desobedientes: mandá-los pro inferno. Pra queimar por toda eternidade. TO-DA E-TER-NI-DA-DE.

Vem cá, um lago de fogo e enxofre onde haverá sofrimento e ranger de dentes não é um tiquinho exagerado não? Hein? Por que não fazer, sei lá, um inferno diferente pra cada pessoa? Pra uns, seria um chá-de revelação-de-sexo-de-bebê interminável. Sem coxinhas, só bolovo. Pra outros, seria uma reunião que era pra durar 15 minutos mas já tá durando a eternidade: “Acho que ainda temos dez infinitinhos, dá tempo de revisar os números do financeiro, tá com os slides aí, Sandra? Ah, precisa do adaptador pro pendrive? Pede pro Júlio do T.I. trazer, 2 mil aninhos ele tá aí.”

Porra, esse escarcéu todo só por causa de uns sacos de carne vivendo num pedacinho de poeira boiando no espaço? É como um cientista olhando bactérias no microscópio e pensando: “Ahhhh Cleyton. Tá batendo punheta de novo, caralho? Sou obrigado a te condenar ao sofrimento eterno. Desculpa, não tenho o que fazer. Minhas mãos estão atadas. Minhas mãos ONIPOTENTES estão atadas. Regras são regras. Que eu criei. Mas, né. Fazer o que?

Ai ai ai, esse Deus, viu. Vou te falar: quem diabos esse cara pensa que é?

Valeu, pessoal. Vocês foram demais.

Obrigado à Prada pelo figurino.

A gente se vê em breve! Tchau!

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