
Por que Poesia?
Por que poesia?
Pois só o verso vê o submerso:
melancolia
O que é melancolia?
É a beleza oculta na tristeza
do dia
O que é o dia a dia?
É tudo o que temos: o barco, os remos,
estadia
Essa estadia é onde?
É onda, estar - seja aqui ou lá - no mesmo mar
que nos esconde
O que é o mar?
É a lágrima, o sal, nossa fundura abissal,
amar
Amar é preciso?
É o brilho d’água cristalina sob neblina,
impreciso
O que é, então, certeza?
Só o fim da jornada, seja nau ou jangada:
a profundeza
Então por quê?
Por que continuar a travessia?
Vagar de porto em porto - fantasia?
Chegar, partir de novo, e as mãos vazias?
Por quê?
Porque içar velas? Teimosia?
Porque enferrujar-se na maresia?
Por quê?
Porque há poesia.